quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O ANALFABETO QUE PASSOU NO VESTIBULAR....

“O Analfabeto que Passou no Vestibular” (7 Letras, 252 págs., R$ 34) marca a estréia de Pena no mundo do que ele chama de “ficção jornalística”. Jornalista e professor do doutorado em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, é autor, entre outros, de “Teoria do Jornalismo” (Contexto) e “Teoria da Biografia sem Fim” (Mauad).
Na entrevista que se segue, Pena expõe claramente suas idéias sobre a crise no modelo das universidades privadas. O autor aponta o dedo, especialmente, para a abertura de capital promovida por grandes grupos privados, que por anos usufruíram de isenção fiscal do governo. “A abertura de capital das universidades é um estelionato fiscal”, diz. Mostra que esses grandes grupos privilegiam o lucro em detrimento da qualidade do ensino. “No Brasil, as universidades particulares baseiam suas receitas exclusivamente nas mensalidades, o que é um erro fatal e principal causa dessa distorção”, explica. E também fala das universidades públicas, incapazes de manter professores em horário integral, e da ação de lobbies privados junto ao governo federal.
Cabe neste romance a advertência ao leitor que a obra se baseia em fatos verídicos? O que você chama de “ficção jornalística”?
Todos os “fatos verídicos” do romance foram publicados em jornal. Eu ficcionalizo esses fatos. Daí o nome de ficção jornalística. Não tenho pretensões literárias com este livro nem com o próximo, que está quase pronto. Não faço literatura, faço ficção. A literatura brasileira contemporânea presta um desserviço à leitura. Ela é pautada pela crítica universitária, que é elitista e pretensiosa. Os autores não estão preocupados com os leitores, mas apenas com a satisfação da vaidade intelectual. Consideram um desrespeito ao próprio currículo elaborar enredos ágeis, escritos com simplicidade e fluência. E depois reclamam que não são lidos. Não são lidos porque são chatos, herméticos e bestas.
A história de um analfabeto que passou no vestibular lembra muito o caso de um padeiro de 29 anos, analfabeto, que se classificou em oitavo lugar no vestibular de Direito da Faculdade Estácio de Sá, em 2001. Foi essa a sua inspiração?
É um dos fatos publicados em jornal que eu ficcionalizo. Mas há outros. Talvez o mais importante seja a abertura de capital de algumas universidades, que lançaram ações na bolsa de valores recentemente. Há um absurdo nessa situação. Durante mais de 30 anos, essas universidades foram filantrópicas, o que significa que tiveram isenções fiscais importantes. Ou seja, fomos nós, o público, que financiamos sua expansão. E essa expansão é que proporcionou a venda de ações. Então, o erário deveria ser sócio dessas empresas/universidades. Não entendo como o Ministério Público ainda não se manifestou sobre isso. A abertura de capital das universidades é um estelionato fiscal. Estamos falando de centenas de milhões de reais que foram direto para os bolsos dos donos dessas instituições, cujo valor de mercado só é tão alto porque cresceram com o meu, o seu, o nosso dinheiro. Onde está o Ministério Público ?
Reprodução
Pena denuncia precariedade do ensino universitárioO número de matrículas nas universidades privadas não para de crescer, bem como o número de filiais. É o que você chama de “McDonalds do ensino”. Por que esse fenômeno é ruim?
Não sou contrário à expansão universitária, nem ao ensino privado, nem mesmo à entrada de capitais (desde que respeitada a parte do erário). Eu mesmo dei consultoria a grupos empresariais sérios, que queriam investir em educação de qualidade. O que me incomoda é a mercantilização do ensino, que se intensificou absurdamente nos últimos anos com essa abertura de capital das universidades, que agora lançam ações na Bolsa de Valores. Eu esperava que a entrada de dinheiro melhoraria as condições de ensino, mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, prevalece a lógica do corte de custos para aumentar os lucros. Isso significa turmas com mais alunos, demissões de professores e quebra de pré-requisitos para otimizar as salas de aula. Imagine um aluno de engenharia que cursa Cálculo II antes de fazer Cálculo I. Que tipo de ponte ele vai construir? E o pior é que nós é que vamos atravessar essa ponte. No Brasil, as universidades particulares baseiam suas receitas exclusivamente nas mensalidades, o que é um erro fatal e principal causa dessa distorção. A solução seria investir na pesquisa científica, fazer parceria com grandes empresas e receber royalties. Isso iniciaria um ciclo virtuoso. Mais pesquisas, melhores pesquisadores, melhores professores, melhores alunos. E, consequentemente, mais investimentos. Infelizmente, os acionistas querem o caminho mais rápido, não pensam a longo prazo.
O reitor da Estácio de Sá, João Uchôa Cavalcanti Neto, certa vez declarou que “pesquisa é uma inutilidade pomposa”. O quanto há de Uchoa em Jaime Ortega, reitor e dono da Universidade Bartolomeu Dias?
A obra é ficcional. Os personagens não são baseados em ninguém. Mas, como todo escritor, faço a composição das personalidades a partir das observações do mundo. Conheço o Uchoa (Estácio), mas também conheço o Levinsohn (UniverCidade), o Mário Veiga de Almeida (UVA), o Arapuã (UniSuan) e alguns outros donos de universidade.
E o senador Raul Silvério, eleito pelo Maranhão, embora morasse no Rio, dono de uma rede universitária concorrente? Foi inspirado em algum personagem real? Talvez Ney Suassuna, senador pela Paraíba e dono do grupo Anglo?
Novamente, vale a inspiração em múltiplos personagens. Por exemplo: há um diálogo no romance entre os personagens Jaime Ortega e o Raul Silvério que foi copiado de uma conversa entre o Levinsohn e o DiGênio (dono da Unip) publicada pela “Folha de S.Paulo”. Mas os personagens não são diretamente inspirados neles. Eu apenas aproveito dados da realidade para a composição da trama. E, repito, não há nada do mundo real que não tenha sido publicado em jornais.
Na universidade do romance, a Bartolomeu Dias, quem tem mestrado ou doutorado não faz parte da cúpula. É uma regra. Você conhece algum caso semelhante no mercado?
Esta é uma frase do Uchoa publicada pela “Folha Dirigida”.
Suas críticas ao ensino se estendem também às universidades públicas. Você observa, por exemplo, que “metade do corpo docente das federais” não respeita a exigência de exclusividade e trabalha em outras instituições. Por que isso ocorre?
Novamente, a obra é ficcional. Mas não é difícil perceber a dificuldade que os professores têm em viver com os salários do magistério. Entretanto, há um outro lado que é hipocritamente ignorado: o corporativismo acadêmico (principalmente na área de humanas). Nossos doutores produzem discursos para si mesmos, encastelam-se em grupos de auto-proteção e julgam como superficial qualquer narrativa diferente da que utilizam, que é incompreensível para a imensa maioria dos mortais. A linguagem da academia é produzida como estratégia de poder. Quanto menos compreendidos, mais nossos brilhantes professores universitários se eternizam em suas cátedras de mogno, sem o controle da sociedade. As teses e dissertações seguem regras rígidas justamente para garantir essa perpetuação de poder. E isso se reflete na literatura. Após fazer mestrado e doutorado em Literatura Brasileira, não tenho dúvidas de que são os mestres e doutores que prejudicam a formação de um público leitor no país.
Outra crítica é feita aos cursos de pós-graduação latu sensu, “com mensalidades altíssimas e qualidade duvidosa”. Por que esses cursos fazem tanto sucesso e se tornaram fonte de receita tão importante para as faculdades privadas?
Por dois motivos principais: a rápida duração e a confusão conceitual. O Brasil instituiu a cultura dos MBAs, que nada mais são do que cursos latu sensu. São caros e conferem certo status aos estudantes. Mas, na grande maioria, são estruturados como fonte de receita, não como geradores de conhecimento. Além disso, a fiscalização é precária e ineficiente.
O desrespeito à Lei de Diretrizes e Bases parece regra no mundo da sua ficção. Também é assim no mundo real, do ensino brasileiro? Você pode dar exemplos?
É assim no mundo real. A LDB diz que as universidades devem ter um terço dos professores em regime de 40 horas, sendo apenas metade desse tempo em sala de aula. Quantas instituições cumprem esta regra? Outros exemplos de desrespeito: déficit de professores titulados, falta de cursos strictu sensu e ausência de pesquisas financiadas.
A universidade do seu romance é ajudada pelo governo federal e pelo município do Rio, com empréstimos. Estamos, ainda, apenas no terreno da fantasia?
Estamos sempre no terreno da fantasia. Entretanto, acredito que a ficção fala mais sobre a realidade do que a própria realidade. Ela é perene, não serve para embrulhar o peixe no dia seguinte. Regularmente, diversas pessoas denunciam a decadência do ensino universitário no Brasil. São alunos, professores, pais e até congressistas. Basta abrir os jornais e ver os indicadores do MEC, os resultados das provas da OAB e as avaliações do INEP. O que adianta? As discussões duram no máximo alguns dias e depois se perdem. Esse é o tempo da mídia. A imprensa esgota o assunto rapidamente, pois outras pautas se impõem. É da sua natureza. Com o livro é diferente. Daqui a dez anos alguém ainda poderá levantar a discussão. Além disso, a ficção fornece pistas sobre comportamentos, levanta discussões sobre detalhes que passam despercebidos e aguça a imaginação, o que é sua característica mais importante. Por exemplo: a reforma universitária está em tramitação no Congresso Nacional. Se um deputado em Brasília tiver interesse em ler ficções sobre universidades pode encontrar um material incomum para criar soluções imaginativas e não apenas burocráticas ou paliativas. Como diria o Manoel de Barros, noventa por cento do escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira. Ah, e sobre os empréstimos: basta olhar no BNDES.
Você descreve a existência de um órgão ligado ao MEC, o Conselho Brasileiro de Educação, que lembra muito o Conselho Nacional de Educação. A sua descrição de uma reunião desse conselho é assustadora, por mostrar como a defesa de interesses privados se sobrepõe a qualquer interesse público. A sua crítica aqui é à gestão do então ministro Paulo Renato Sousa, quando ocorreu uma grande abertura de universidades privadas no país, ou é mais geral, a todo o sistema?
Não sou contrário à expansão, nem tenho críticas diretas à gestão do ministro do PSDB, mas sim a todo o sistema. Sobre o CBE ficcional, é inspirado em colegiados diversos. Entretanto, durante a gestão do Paulo Renato houve um caso real de lobby no CNE amplamente divulgado pela mídia. Mas nada mudou na gestão atual. Não é segredo para ninguém que as universidades particulares fazem lobby no CNE. Alguns membros têm ligação direta como os donos dessas instituições. Mas há uma Reforma Universitária em trâmite no Congresso. Por que os deputados e senadores não se manifestam? Ah, esqueci: há muitos donos de faculdades no Congresso. Triste fim. Acho que ninguém em Brasília vai se interessar pelo tema.

HORÁRIO DE VERÃO

Horário de verão começa no próximo dia 19 em três regiões do país

De acordo com portaria do governo federal em breve teremos horário de verão.
O horário de verão deste ano começará no próximo dia 19 nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país. À 0h, os relógios terão que ser adiantados em uma hora.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a medida ficará em vigor até a meia-noite do dia 15 de fevereiro de 2009.
A expectativa do governo é de que haja uma redução de 4% a 5% no horário de pico, o que equivale a uma economia de 2.000 MW, o suficiente para abastecer uma cidade com 6 milhões de habitantes.
Neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fixou datas para o início e para o término do horário de verão. Com isso, a medida entra em vigor à 0h do terceiro domingo de outubro e vai até o terceiro domingo de fevereiro seguinte.
O governo, no entanto, fez uma ressalva: caso o terceiro domingo de fevereiro seja o de Carnaval, o encerramento do horário de verão fica para o próximo domingo. A mudança de horário será feita sempre nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
Horário de verão
O horário de verão é adotado sempre nesta época do ano por causa do aumento na demanda, resultado do calor e do crescimento da produção industrial às vésperas do Natal. Nesse período, os dias têm maior duração por causa da posição da terra em relação ao sol, e a luminosidade natural pode ser melhor aproveitada.
Na última edição, o país registrou uma economia de R$ 10 milhões com o horário de verão, menor do que nos anos anteriores, quando a redução dos gastos com energia elétrica foi em média de R$ 40 milhões. De acordo com o ONS (Operador Nacional do Setor Elétrico) isso ocorreu porque houve poucas chuvas no fim do ano e, com isso, o país teve que acionar usinas termelétricas, mais caras do que as hidrelétricas geralmente usadas.
O horário de verão foi adotado pela primeira vez no Brasil em 1931, com duração de cinco meses. Até 1967 a mudança no horário ocorreu nove vezes. Desde 1985, no entanto, a medida vem sendo adotada sem interrupções, com diferenças apenas nos Estados atingidos e no período de duração.